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segunda-feira, março 31, 2008

Entrando na campanha

Passado o "boom da Aids" (anos 80), de acordo com O Globo de 30/03/2008, o número de casos de contaminação pelo HIV aumentou assustadoramente entre gays de 13 a 24 anos, nos últimos 10 anos.
Para especialistas, "os jovens perderam o medo da doença e deixaram de se prevenir". Uma rápida pesquisa em sites de encontros mostra que a procura por sexo sem camisinha é grande.
Um jovem de 21 anos entrevistado pela matéria e contaminado afirmou: "Eu queria me enturmar. Nas festas e baladas, todo mundo diz que a Aids é doença controlável como o diabetes ou qualquer outra". Outro disse que "hoje em dia tem o coquetel de graça" e que "ninguém morre de Aids no Brasil". Essa, infelizmente, não é a verdade.
A falta de (in)formação é visível, em todas as manifestações da sexualidade.
Por isso, é preciso conscientizar(-se).
Façamos nossa parte.

terça-feira, março 25, 2008

Tese sobre as relações de poder e dominação

A maioria dos trabalhos acadêmicos ficam restritos a um pequeno número de leitores, sejam porque os assuntos são tratados de forma hermética, dada as exigências da academia, seja porque falta a divulgação de tais trabalhos, confinados a serem apenas um amontoado de textos coletados nos Anais dos eventos.
Sabemos que alguns trabalhos notáveis muitas vezes perecem pela falta de espaço para atingir um público mais amplo. Oxalá isso não ocorra com a tese de doutoramento defendida semana passada (19/03), na UERJ, por Lúcia Facco.
Antes, para quem ainda não conhece o trabalho dela, uma rápida apresentação. Lúcia é autora de As Heroínas Saem do Armário (Edições GLS, 2004), sua dissertação de mestrado apresentada em formato ficcional. O livro analisa cinco romances escritos por lésbicas, e investiga que, diferente de ser uma subliteratura, tais textos são “paraliteratura”, devido à marginalização imposta a eles. Não há arcabouço crítico sobre estes textos, observa a autora.
Outro livro publicado por Lúcia é Lado B: História de Mulheres (Edições GLS, 2006). Trata-se de uma coletânea de contos com histórias sensíveis, inteligentes e sutis de mulheres que vivem seus amores por outras mulheres sem levantar bandeira e sem culpa.
Agora Lúcia defende sua tese Era uma vez um casal diferente: a temática homossexual na educação literária infanto-juvenil. Não tive acesso ao texto, o que poderia limitar meus comentários e/ou torná-los duvidosos, caso eu não tivesse presenciado a positiva avaliação feita pelos componentes da banca examinadora. Além disso, conheço os trabalhos anteriores de Lúcia Facco, o que, para mim, já serve como argumentação.
Neste mais recente trabalho, a autora discute, entre muitas outras coisas relacionadas ao assunto, os compromissos estáticos do currículo escolar, que tende a padronizar e unificar os alunos. Para tanto ela investiga dos cânones literários aos livros paradidáticos utilizados especificamente nas aulas de literatura. O que não impede que ela trace nos primeiros capítulos o percurso de violência, de discriminação, da cultura camp, etc, que permeia a vivência homoerótica.
Discutir um tema ainda polêmico e direcioná-lo a um público em formação, quando, na maioria das vezes, são os educadores quem precisam de educação, não deve ter sido tarefa fácil. Só por isso merece nossa atenção. Porém, não bastasse isso, a emoção que tomou conta da banca durante a defesa da tese mostra que o trabalho tem qualidade e merece ultrapassar os muros acadêmicos.
Se na dissertação As Heroínas Saem do Armário Lúcia Facco criou uma personagem, nesta tese usa a primeira pessoa correndo todos os riscos. Talvez porque, como ela mesma expressou, “não dava para se colocar de fora daquilo que estava defendendo”.
Aguardo ansioso que o trabalho vire livro e possa atingir seu objetivo que é, conforme as palavras da autora, “dar às pessoas a oportunidade de conhecer mais a necessidade de mudar as relações de poder e dominação”.

quarta-feira, março 19, 2008

Concursos

Estão abertas, até o dia 15 de maio, as inscrições para a 50a edição do Prêmio Jabuti.
Confira regulamento no site:

www.premiojabuti.org.br

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Também estão abertas, até dia 31 de agosto, as inscrições para o 180 Concurso de Contos Luiz Vilela, promovido pela Fundação Cultural de Ituiutaba (MG).

Confira o regulamento no site:

http://www.fculturalitba.com.br/

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E, até 31 de maio, as inscrições para 5ª edição do Contos do Rio, do Jornal O Globo.

Confira regulamento no blog do caderno Prosa & Verso.


segunda-feira, março 17, 2008

Quanta coisa...

Quem nunca ouviu o velho chavão “dinheiro não dá em árvore"? Fosse a mãe que não podia comprar uma bobagem que a gente pedia na infância, fosse no dia-a-dia... Mas esta idéia está sendo subvertida até o dia 04 de maio no foyer do Centro Cultural Banco do Brasil, aqui do Rio. É lá que está a suntuosa instalação O sonho da planta do escritório, dos suíços Gerda Steiner e Jörg Lenzlinger. Nela, a partir de uma planta viva sobre uma mesa de escritório comum, sai uma vasta folhagem, que preenche os 30 metros de altura e 12 de largura da maravilhosa rotunda do CCBB.
Para um olhar menos atento ou ainda para aqueles que têm preconceitos contra arte feita de material reciclado, tudo não passa de um amontoado de objetos. Mas basta dedicar uns minutos a mais para que o observador possa perceber a riqueza de detalhes e as delicadezas do projeto. Exatamente embaixo da grande árvore há acolchoados - de onde eu tirei esta foto - para que os visitantes possam se deleitar.
A instalação faz parte da exposição "Os Trópicos – Visões a Partir do Centro do Globo", com cerca de 130 obras de arte, entre antigas e trabalhos contemporâneos de países tropicais, vindas, na maioria, do Museu Etnológico de Berlim. É a oportunidade de ver as moedas Real, Euro, Dólar... metamorfoseadas ora em pétalas de flores tropicais, ora como enfeites de um mundo que precisa repensar urgentemente suas perspectivas e projetos de sustentabilidade sócio-ecológicas.
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Mudando de linguagem artística, assistimos El Orfanato, de Juan Antonio. Com uma história muito bem “amarrada”, o roteirista Sérgio Sánches consegue ir ampliando a dimensão de suspense à medida que o filme se desenrola. Nada é dado por antecedência, apesar de em alguns momentos o espectador ter certeza do que estar por vir. As soluções imagéticas surpreendem. Mesmo sabendo que o enredo, nada original, se espelha claramente em Los Otros (2001) ou em The Dark (2005), etc.
Laura (Belén Rueda), o marido (Fernando Cayo) e o pequeno filho Simón (Roger Príncep) formam o núcleo protagonista, que se muda para um antigo casarão, onde funcionava um orfanato em que Laura passou a infância.
Tudo vai bem até que o menino passa a receber a visita de amiguinhos imaginários, que começam com brincadeiras até chegar a coisas mais sérias, culminando com o desaparecimento de Simón, quando toda a ação efetivamente engata.
O filme tem produção de Guillermo del Toro que, depois de ter perdido a mão em El Laberinto del Fauno (2006), consegue apresentar um trabalho em que a metafísica e o sobrenatural encontram a verossimilhança correta para prender o espectador.
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Mudando novamente o campo temático, quero registrar a alegria que tive ao ouvir o álbum de Maria Bethânia e Omara Portuondo. Como é bom saber que apesar da turva geléia geral musical sempre é possível contar com o trabalho de artistas irrepreensíveis, tanto na técnica quanto na emoção.
Conheci Omara no grande dvd Buena Vista Social Club e a voz da cubana me encantou.
A idéia de juntar as duas divas partiu da cantora cubana quanto esteve setembro do ano passado em turnê no Brasil, e faz parte de seu projeto de gravar em dueto com grandes cantoras latinas para reafirmar os laços culturais do continente.
O resultado deste encontro é de uma delicadeza comovente e apaixonante. O repertório e a voz dessas duas dadivosas divas precisavam mesmo se juntar, como um raro presente aos ouvintes.
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Falando em divas... Apesar de já estar circulando pela internet há duas semanas, 4 minutes, novo single do álbum “Hard Candy” de Madonna, está sendo lançado oficialmente hoje 17/03, pela sua gravadora.
A espera do lançamento de um novo álbum de Madonna, sempre envolve expectativas e especulações. Independente de gostar ou não de Madonna, o fato é que ela tem importância decisiva na história da música pop recente. Talvez sua música "pouco acrescente", como aponta o crítico Antônio Carlos Miguel, mas, como ele mesmo observa, "Madonna tem algo".
A primeira imagem que tenho de Madonna é do Girlie Show. Foi puro impacto para um moleque do brejo paraibano ver cenas de pura permissividade e afrontamento, contra os preconceitos e tabus imbecis que ainda teimam em enrugar a vida. Ela mostra que sabe manter, com mão de ferro, uma carreira que transita entre teatro, performance, show, vídeo, música e o diabo-a-quatro. Sempre lançando novos recursos visuais e coreográficos (imediatamente imitados), seus shows/cds/dvds trazem a marca da polêmica, que por vezes passeia do profano ao sagrado.
Com promessa de ser diferente (sempre) de tudo com que já flertou nos álbuns anteriores “Hard Candy” promete tornar, mais uma vez, Madonna como tema de muito papo por aí.

... sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo...
(J. Guimarães Rosa)

sexta-feira, março 07, 2008

Estréia imperdível

Comentado aqui em janeiro, quando houve a pré-estréia, finalmente entra em cartaz neste fim de semana Dans Paris.
Terceiro longa-metragem do francês Christophe Honoré, o filme se apresenta como uma delicada e masculina investigação do amor fraternal. Delicada porque o diretor consegue obter unidade entre o frescor da juventude de Jonathan (Louis Garrel, de Os Sonhadores) e a depressão profunda de Paul (Romain Duris, de Albergue espanhol).
Masculina porque o filme tematiza as formas de se demonstrar carinho
dentro do universo masculino. É também sobre parceria e cumplicidade. Aceitação e recuo.
Paul acabou de sair de um casamento. Romântico, não sabe lidar com a perda e volta para a casa do pai (Guy Marchand), o chefe de família tão amoroso quanto desajeitado em demonstrar seus sentimentos. A tristeza de Paul contrasta com a alegria do irmão Jonathan, que resolve fazer de tudo para resgatar o irmão de seu estado melancólico, enquanto se mostra ao espectador.

As mulheres, sem que isso nunca seja depreciativo, são apenas coadjuvantes e/ou os estopins das inquietações. Assim, Em Paris (título brasileiro) resulta numa linda homenagem à Nouvelle Vague de François Truffaut, na forma da história de dois irmãos. Imperdível!

terça-feira, março 04, 2008

Prazer nos olhos e no coração

O encantador espetáculo Puro Brasileiro se revelou uma feliz surpresa, como opção teatral, este fim de semana, tendo em vista todos os alarmantes preconceitos de quem vai, hoje em dia, assistir a um musical de música caipira.
O humor típico das modas de viola e dos causos do sertão enche o espetáculo de uma alegria e leveza fascinantes. O roteiro percorre a trajetória da música caipira até a chegada do rádio, cobrindo um período que vai dos anos 20 aos 60. Ouvida por pobres e ricos, ela foi tão importante que chegou a ser apresentada no Cassino da Urca, freqüentado pelo poder e pela burguesia na década de 30.
A "viagem" passa pelas influências estrangeiras, pelo estigma criado por Monteiro Lobato com seu Jeca Tatu, pela atuação marcante e definitiva de Mazzaropi, e por vários outros exemplos. Aliás, o tom “didático” quase chega a quebrar o ritmo do espetáculo, mas nada que interfira efetivamente.
A riqueza das histórias é abrilhantada pelas interpretações corretas dos atores da Cia. Martim Cererê, de Goiânia, e pela direção de Marcos Fayad. Além dos músicos que fazem o acompanhamento ao vivo. A intimidade que os atores em cena têm com as histórias demonstra a pesquisa sobre o tema. O resultado são interpretações caprichosas.
Entre as canções apresentadas estão Caipira de Gravata (Zé Mulato), Desafio de Perguntas (Alvarenga e Ranchinho), O Sapo no Saco (Jararaca) e Puro Brasileiro (Cacique e Pajé). Sem contar canções que foram sucesso de Cornélio Pires, Tonico e Tinoco, Jararaca e Ratinho, Alvarenga e Ranchinho, o violeiro Tião Carreiro, as Irmãs Galvão, Cascatinha e Inhanha, etc.
Sem dúvida, a música do caboclo detalhou a geografia do Brasil rural. Da mesma linhagem de outro excelente musical – Sassaricando – e distante do caricato, Puro Brasileiro fica em cartaz até 09 de março, no Teatro de Arena da Caixa Cultural.
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E a cidade maravilhosa completou 443 anos de fundação, dia 01 de março. Uma das comemorações do aniversário foi o show do furacão Elba Ramalho, nada menos que nos Arcos da Lapa.
Com repertório variadíssimo – Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Flávio José, Paralamas do Sucesso, Gilberto Gil, Ivete Sangalo, Alceu Valença, Zeca Pagodinho, Tom Jobim, Dominguinhos – Elba Ramalho dançou e pulou por quase 2 horas, mostrando que a idade não chegou para ela.
Seu carisma e energia, como sempre, foram o tempero certo para um show impecável, que fez a "chinela chiar". Mas o show não foi só de fervo e frevo. Sua preocupação pela espiritualidade fez com que ela entoasse o “Pai nosso”, enquanto a banda executava Bob Marley e o público parecia em transe. De arrepiar!
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Por falar em aniversário do Rio de Janeiro, está em cartaz até dia 27 de abril, no CCBB, a exposição Família Ferrez novas revelações. Fotos inéditas, documentos e álbuns de época de Júlio, Luciano e Gilberto Ferrez, fotógrafos que imprimiram qualidade na história da fotografia brasileira.
O visitante faz uma viagem no tempo e no espaço, sendo apresentado a aspectos urbanísticos e paisagísticos de diversas localidades brasileiras, países europeus e Senegal, em imagens de muito bom gosto e olhar crítico.
Porém, longe de celebrar o Rio, o olhar sobre a cidade nos trás uma certa tristeza ao percebermos o quanto perdemos. Demolições que não resultaram em nenhum benefício, abandono e descaso com um patrimônio arquitetônico tão rico e importante para a nossa história.
Enquanto aqui as construções históricas viram sucatas ou abrigo de marginalizados da mesma sociedade, na Europa estes locais abrigam museus, espaços culturas, lojas caras, etc e tal. E o pior: nós gastamos uma fortuna para ir lá, ver edificações que bem poderiam estar disponíveis por aqui. Mas por aqui prédios explodem, como aconteceu semana passada na Rua da Alfândega, no centro do Rio.
Mas como diz Riobaldo “esta vida é de cabeça-para-baixo, ninguém pode medir suas perdas e colheitas”. Vale a pena ver a exposição, sem pressa, para apreciá-la com calma.