Ná Ozzetti apresentou no Rio um show em que visita o repertório de Carmem Miranda, que, segundo ela, é uma referência fundamental em sua carreira. O resultado não poderia ser melhor. Amadurecida que é no trato de repertório do nosso cancionista popular, a cantora nos presenteia com um espetáculo minimalista, que não perde de vista os balangandãs daquela que, com sua dicção ágil e uma malícia quase ingênua, “inventou” o modo de cantar o samba.
Carmen Miranda, como escreveu Caetano Veloso, representa para nós um “misto de orgulho e vergonha”, cuja biografia vai contra “nossos anseios de bom gosto e identidade nacional”. O fato é que quase tudo o que se faz em arte no Brasil passa pelo que ela nos deixou. A portuguesa nascida em Marco de Canaveses é, ainda nas palavras de Caetano, nossa “caricatura e radiografia”. Ela condensa em si signos que tensionam a nossa “brasilidade” ao máximo e intensifica isso pondo em xeque as questões do que podemos chamar de “Nacional”.
Voltando ao espetáculo de Ná, quanto ao figurino, a alternativa encontrada para estabelecer melhor balanceamento entre as canções é um vestido longo preto. Os balangandãs ficam por conta das várias pulseiras coloridas que ornamentam seus braços inquietos, que jamais caem no caricato.
Importa chamar atenção para este fato: a não imitação. Óbvio que é impossível cantar “Boneca de piche”, por exemplo, sem as afetações personalíssimas doadas por Carmen à canção. Mas são expressões faciais, vocais e gestuais que Ná Ozzetti soube captar com sofisticação e sensibilidade.
As canções mais populares, e são muitas que ainda permanecem em nossa lembrança, mostraram o acerto do roteiro. A platéia não deixou dúvidas da satisfação com a qualidade do repertório, da voz e dos arranjos apresentados. Aliás, o quarteto que acompanha Ná Ozzetti é um elemento importante para o sucesso do show. Muito semelhante ao que acontecia entre Carmen e o seu Bando da Lua, os músicos do show também dialogavam com Ná não só tocando, mas também cantando.
O show “Ná Ozzetti canta Carmen Miranda” mostra como se dá a transposição do sentido da mestiçagem e da hibridização na arte de Carmen. O cuidado musical e vocal do espetáculo mostra uma abordagem original sobre a complexidade da sua obra.
Texto publicado no jornal A União-PB, 09/08/2008Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Peça Bent – Mostra como atores inexperientes e um texto mal trabalhado transformam uma história densa, como é a da situação dos gays no período nazista, em tiradas risíveis, no pior sentido da expressão.
= Peça Uma janela em Copacabana – Quando não há mais como enrolar o espectador, a peça acaba. Sem nenhuma explicação ou sentido.
= Espetáculo Arlequim no Inferno – Enrico Bonavera, ator italiano, interpreta o personagem título - Arlequim - que vai com Orfeu ao inferno buscar Eurídice. Um quase monólogo em que Bonavera, usando máscaras de Donato Sartori, dá um show de consciência e trabalho corporal e vocal. O triste é comparar com os atores do Brasil. Mais preocupados em transformar seus corpos em coisas rígidas, travadas e "malhadas" do que prepará-los para o ofício do teatro.
2 comentários:
Leo, o show deve estar maravilhoso mesmo! Vi uma apresentação do disco Piano e Voz, uma parceria dela com o André Mehmari, e achei lindo de chorar e de doer. Esse show novo deve estar primoroso do mesmo jeito.
Ahh, e esses teus posts me fazem ficar na vontade de ver tuuudo! Adoro!
Beijosss!
Oi, tudo bem?
Sou novo por aqui e adorei o blog.
Bem, pra mim a Ná Ozzetti é a maior cantora do Brasil (atualmente).
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