Pesquisar neste blog

terça-feira, abril 15, 2008

Em busca do objeto "artístico"

Num dia desses de chuva, fomos ver a comentada e pretensiosa exposição Entre amigos & Amores, do fotógrafo Pedro Stephan.
Stephan é especializado na temática homoerótica, no Brasil e no exterior. Seus ensaios já ilustraram da revista francesa "Tetu Magazine", passando pelas alemãs "AK Magazine", "Siegessaeule" e "Du und Ich", às norte-americanas "Circuit Noize" e "La Vida", entre outras. Além das brasileiras "Sui Generis", G Magazine" e "DOM", por exemplo. Ele contribuiu para importantes trabalhos institucionais, desde cartazes da "Parada do Orgulho" à campanha de prevenção à AIDS. Tudo isso, de cara, demonstra a importância do seu trabalho.
No entanto, focando especificamente na sua exposição “fotográfica multimídia”, não percebemos nenhuma perspectiva artística e/ou estética. O visitante entra em uma sala escura onde, de pé, assiste à projeção, a partir de um datashow, de imagens registradas pelo fotógrafo, em diversos locais-clichê da vida gay carioca. Nada, além disso. Não há estranhamento, desvio, profusão de sentidos, ambiguidade, muito menos singularização do objeto em exposição.
Como afirma o cineasta Sergei Eisenstein, não é refletindo ou retratando a realidade tal como ela é que se consegue os melhores efeitos em arte. A exposição pode até ganhar em qualidade documental, no momento em que parte do público se identifica (de várias formas) com os momentos clicados. Porém, simultaneamente perde em concepção estética. Se é que havia alguma intenção de trabalho com o objeto artístico.
A proposta era compor um painel “realístico e atual” do cenário GLBTT (a cada dia esta sigla aumenta mais) no Rio de Janeiro. “Quero contribuir para desfazer os estigmas que pairam sobre os gays”, “quero também fazer com que os gays se vejam”, disse o fotógrafo. Ora, a partir do momento em que se expõe o gay em guetos, o resultado não é exatamente o inverso? A reiteração da estigmatização?
A produtora cultural Heloísa Buarque de Hollanda, que assina o texto de apresentação, por exemplo, afirma, com algum exagero, que "nesta exposição (...) há o mapeamento geopolítico dos espaços de socialização da comunidade homossexual carioca". Andréas Valentin, curador da mostra, também não poupa entusiasmo ao declarar que "este trabalho pioneiro é o resultado de uma pesquisa realizada ao longo de vários meses, tornando-se de grande importância como estudo antropológico de uma minoria estigmatizada e alvo de preconceitos e deboches". Parecem estar falando de outros trabalhos do fotógrafo, e não o slideshow em cartaz no Centro Cultural da Justiça Federal. Aliás, cabe registrar, ocupando pela segunda vez um espaço de exposição no Centro do Rio. O anterior foi no Centro Administrativo da Alerj, durante o Foto Rio 2007.
Como dissemos, há o “valor didático” e a capacidade de colocar o tema em debate. Porém estamos falando de um objeto que se propõe artístico. Em que a arte deve ser realçada. O “valor didático”, o tema, as intenções explicativas, etc e tal, deveriam, existindo, permanecer “diluídos” no objeto e não se sobrepor a este, como de fato acontece.
Por fim, parabenizo Pedro Stephan pelo apreciável trabalho documental e antropológico, desenvolvido em diversas áreas da comunicação. Mas, sobre a exposição, eu esperava mais. Muito mais.

Em tempo: "Entre Amigos & Amores – espaços de socialização GLS do Rio" fica em cartaz até 27/04 no Centro Cultural da Justiça Federal, Rio.

3 comentários:

Anônimo disse...

parabéns pelo belo texto, leo.
v. está dominando mt bem o estilo jornalístico.
gostei tb da sua argumentação sobre a exposição.
abs.

Anônimo disse...

anônimo é foda, viu, leo.
sou eu, seu amigo amador.
hehehe...

roncalli dantas disse...

olá Leo,
bom texto!
- essa busca do objeto artístico na fotografia é O desafio. Como diz Barthes, as fotos são signos que não prosperam bem, pois o referente está sempre aderido.
Baseado nessa dificuldade, uns buscam uma "atitude passiva" pois, segundo eles, os elemento Puntuais vão estar colado inconscientemente naquele instante mágico fotográfico... por aí vão os grandes Cartier-Bresson,Capa o fotojornalismo, o puritanismo etc. Mas outros encontram soluções via reflexão dessa fragilidade da linguagem fotográfica e a utilizam como
código de arte... seguindo essa linha, a gente tem nomes de peso como Vik Muniz, Rosangela Rennó. Esses sim, vão muito além do fotojornalismo.