O humor típico das modas de viola e dos causos do sertão enche o espetáculo de uma alegria e leveza fascinantes. O roteiro percorre a trajetória da música caipira até a chegada do rádio, cobrindo um período que vai dos anos 20 aos 60. Ouvida por pobres e ricos, ela foi tão importante que chegou a ser apresentada no Cassino da Urca, freqüentado pelo poder e pela burguesia na década de 30.
A "viagem" passa pelas influências estrangeiras, pelo estigma criado por Monteiro Lobato com seu Jeca Tatu, pela atuação marcante e definitiva de Mazzaropi, e por vários outros exemplos. Aliás, o tom “didático” quase chega a quebrar o ritmo do espetáculo, mas nada que interfira efetivamente.
A riqueza das histórias é abrilhantada pelas interpretações corretas dos atores da
Cia. Martim Cererê, de Goiânia, e pela direção de Marcos Fayad. Além dos músicos que fazem o acompanhamento ao vivo. A intimidade que os atores em cena têm com as histórias demonstra a pesquisa sobre o tema. O resultado são interpretações caprichosas.
Entre as canções apresentadas estão
Caipira de Gravata (Zé Mulato),
Desafio de Perguntas (Alvarenga e Ranchinho),
O Sapo no Saco (Jararaca) e
Puro Brasileiro (Cacique e Pajé). Sem contar canções que foram sucesso de Cornélio Pires, Tonico e Tinoco, Jararaca e Ratinho, Alvarenga e Ranchinho, o violeiro Tião Carreiro, as Irmãs Galvão,
Cascatinha e
Inhanha, etc.
Sem dúvida, a música do caboclo detalhou a geografia do Brasil rural. Da mesma linhagem de outro excelente musical –
Sassaricando – e distante do caricato,
Puro Brasileiro fica em cartaz até 09 de março, no Teatro de Arena da Caixa Cultural.
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E a cidade maravilhosa completou 443 anos de fundação, dia 01 de março. Uma das comemorações do aniversário foi o show do furacão Elba Ramalho, nada menos que nos Arcos da Lapa.
Com repertório variadíssimo – Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Flávio José, Paralamas do Sucesso, Gilberto Gil, Ivete Sangalo, Alceu Valença, Zeca Pagodinho, Tom Jobim, Dominguinhos – Elba Ramalho dançou e pulou por quase 2 horas, mostrando que a idade não chegou para ela.
Seu carisma e energia, como sempre, foram o tempero certo para um show impecável, que fez a "chinela chiar". Mas o show não foi só de fervo e frevo. Sua preocupação pela espiritualidade fez com que ela entoasse o “Pai nosso”, enquanto a banda executava Bob Marley e o público parecia
em transe. De arrepiar!
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Por falar em aniversário do Rio de Janeiro, está em cartaz até dia 27 de abril, no CCBB, a exposição
Família Ferrez novas revelações. Fotos inéditas, documentos e álbuns de época de Júlio, Luciano e Gilberto Ferrez, fotógrafos que imprimiram qualidade na história da fotografia brasileira.
O visitante faz uma viagem no tempo e no espaço, sendo apresentado a aspectos urbanísticos e paisagísticos de diversas localidades brasileiras, países europeus e Senegal, em imagens de muito bom gosto e olhar crítico.
Porém, longe de celebrar o Rio, o olhar sobre a cidade nos trás uma certa tristeza ao percebermos o quanto perdemos. Demolições que não resultaram em nenhum benefício, abandono e descaso com um patrimônio arquitetônico tão rico e importante para a nossa história.
Enquanto aqui as construções históricas viram sucatas ou abrigo de marginalizados da mesma sociedade, na Europa estes locais abrigam museus, espaços culturas, lojas caras, etc e tal. E o pior: nós gastamos uma fortuna para ir lá, ver edificações que bem poderiam estar disponíveis por aqui. Mas por aqui prédios explodem, como aconteceu semana passada na Rua da Alfândega, no centro do Rio.
Mas como diz Riobaldo “esta vida é de cabeça-para-baixo, ninguém pode medir suas perdas e colheitas”. Vale a pena ver a exposição, sem pressa, para apreciá-la com calma.