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terça-feira, abril 17, 2007

Lúdico e Rebelião

Pseudônimos, heterônimos, anonimato e toda forma de máscara retórica existem à mancheia no universo literário. Os motivos são muitos, eles se estendem desde a escrita política clandestina à pornografia.
Quero comentar o heterônimo Adriana Partimpim, intérprete que dedica seu trabalho, preferencialmente, ao público infantil, criado pela Adriana Calcanhotto.
Calcanhotto fez uso de vários símbolos do universo infantil, por exemplo, como a utilização de máscaras infantis e/ou coloridas para diferenciar-se de seu heterônimo e revelou que Partimpim é como o pai dela a chama desde criança.
A máscara por si só já aponta para uma transformação ou disfarce, pois com seu simbolismo primitivo e antigo, a máscara tem a força de encarnar naquele que a usa o “espírito” representado por ela.
Em entrevista, Partimpim esclarece que seu objetivo ao lançar o cd, em 2005, foi o de “mudar o mundo” e nada melhor do que começar pelas crianças.
Um heterônimo nitidamente feminino e que adora cantar para/com as crianças, ora emprestando voz a elas, ora àqueles que com elas vivem; ora levando-as ao mundo mágico das fábulas – Formiga bossa nova – e da poesia, ora conscientizando-as para questões universais e essenciais à constituição do ser – Saiba.
Dentre as dez faixas do disco destaco a Canção da falsa tartaruga, uma música de Cid Campos para a tradução feita por Augusto de Campos da canção da falsa tartaruga, do livro Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll.
A ligação de Calcanhotto com a literatura é bastante estreita, haja vista a interpretação de poemas musicados como: A fábrica do poema, de Waly Salomão, musicado por Calcanhotto, O verme e a estrela, do simbolista Pedro Kilkerry, musicado por Cid Campos e O outro, do poeta português Mario de Sá-Carneiro, musicado por Calcanhotto, entre outros exemplos.
Certamente Calcanhotto empresta a Partimpim essa vivência, para que ela possa criar seu próprio “país das maravilhas” ou seu “mundo melhor”, mundo em que o lúdico não é sinônimo de alienação, mas de rebelião, de conscientização.
Destaco ainda Formiga bossa nova, música de Alain Oulman sobre o poema Velha fábula em bossa nova, do português Alexandre O’Neil. O poema reconstrói a famosa fábula de La Fontaine A cigarra e a formiga, com o canto da cigarra, que até queria ser “minuciosa” como a formiga, mas não pode negar sua natureza – aliás, ninguém pode.
O disco tem ainda interpretações exemplares para Saiba, de Arnaldo Antunes, e Fico assim sem você, de Abdullah e Cacá Moraes.
Fica claro que, para Partimpim, a criança não é o futuro do planeta, como afirma o clichê social, mas sim, é o presente, pois através de sua conscientização hoje teremos sempre um mundo melhor.
Para o adulto, Adriana Partimpim desperta a nostalgia, dentre outros sentimentos, ao re-significar o passado, através do resgate de canções, livros, fábulas... re-significando também, para as crianças do presente, introduzindo estas na sociedade, pela arte feita com qualidade estética.
Sendo de sagitário, e sempre me emocionando com a interpretação de Partimpim, encerro este post com a letra da canção Ser de sagitário, de Péricles Cavalcanti.

Você metade gente
e metade cavalo
Durante o fim do ano
cruza o planetário

Cavalga elegância
Cabeça em pé de guerra mansa
Nas mãos arco e flecha
Meu coração
Aguarda e acompanha
seu itinerário
Até o fim do ano
ser de sagitário

Você metade gente
e metade cavalo

2 comentários:

Unknown disse...

O show de Partimpim é fabuloso, não?! Meu sobrinho chegou a assisti-lo 2 ou mais vezes por dia... refiro-me à versão em dvd, evidentemente. E os inusitados instrumentos por ela e sua 'turma' utilizados?!... fantásticos!!! Só estava faltando uma matéria sobre ela no seu blog! Valeu!!! A propósito... você já tem sua máscara partimpim?!

Leonardo Davino disse...

Tenho sim, Webert.
A máscara vem junto com o DVD. (rsrs)

Abraço