










Percebo a exaltação às realizações dos navegadores lusitanos e a descrição dos transtornos impostos a eles pelos mouros, com Vênus, auxiliada por Cupido, preparando-lhes uma ilha paradisíaca onde as mais belas ninfas esperarão por eles. Camões, fazendo uso da fanopéia (levando-nos às imagens que são compostas/propostas pelas palavras ou pelo/no corpo da palavra, segundo Ezra Pound), apresenta-nos o local como um verdadeiro paraíso, seja ecológico (v. 55-63), seja erótico (v. 68-83).
Os marinheiros divisam por entre os ramos das árvores as cores dos tecidos das vestes das ninfas, as quais deliberadamente vão se deixando alcançar. Outras são surpreendidas no banho e correm nuas por entre o mato, enquanto alguns jovens entram vestidos na água. Umas fingem fugir, outras não, e deixam-se cair aos pés de seus perseguidores, numa clara demonstração do jogo erótico-amoroso. É ainda o cio vencendo o cansaço depois de brigarem horas a fio, como canta Djavan, na letra de Faltando um pedaço.
Retomando o paraíso de Maomé, em que sete mil (há variantes do mito) virgens esperam pelo herói, para mim, Camões supera tal ideal, visto que os heróis do seu poema não precisam morrer fisicamente para desfrutarem de orgasmos imortais (v. 88-89).
Durante minha leitura, lembrei que Sérgio Buarque de Hollanda escreve no seu Raízes do Brasil que para aqueles que vivem
Entendo, assim, o episódio da Ilha dos Amores como o espaço da utopia, pois é esta natureza edênica a representação do projeto humano de encontrar a “terra prometida”. A Ilha dos Amores, que se configura numa premiação, é, por fim, a representação do paraíso, da glória e da palma, é o louro para aqueles que se esforçam.
Findei minha leitura nada singular com questões fervilhando pois, no contexto contemporâneo de profunda inversão de valores, quando há verdadeiramente o fim das utopias canônicas, pergunto: Quem, ou o que, substituiu o lugar do herói? Quem, ou o que, merece/mereceria os prazeres de Vênus? Ou ainda, quem está desfrutando de tais prazeres hoje-agora?