Desde que começou o ano já assisti a três musicais, dois no teatro: Sassaricando e Cauby! Cauby!; e um no cinema: Dreamgirls. Todos na onda do memorialismo que tem atingido todas as linguagens da arte.
Sassaricando, comandado pelas atuações preciosas de Eduardo Dussek e Soraya Ravenle, com sua intenção primeira de percorrer os temas abordados pelas marchinhas dos carnavais cariocas (quiçá brasileiros) de outrora, acentua o papel de cronistas dos seus criadores. Elas tanto cuidam dos casos de amor, quanto dos problemas de moradia, das profissões, da guerra, dos transportes, da política, da comida e da bebida, dos modismos, da cidade e nunca deixam de ser deliciosas, mesmo quando politicamente incorretas. É um espetáculo para cantar junto, sair pela rua ainda cantando, remetendo-nos aos tempos dos carnavais de rua e suas inversões quase bakhtinianas.
Cauby! Cauby!, com a interpretação de Diogo Vilela, conta a trajetória da carreira de um homem que, controvérsias a parte, pertence ao universo musical do Brasil. Quando fui convidado para ir assistir ao espetáculo, fiquei pensando como seria interpretar alguém que, por si só, já é uma caricatura de si mesmo. Mas Diogo realmente consegue manter os trejeitos e marcadores até o fim, mesmo quando ninguém queira tal fim. É emocionante ver as senhoras acenando tchau para Vilela como se ele “fosse” Cauby. Bons tempos o da delicadeza!!!
Destaco ainda a magnífica presença da cantriz Marya Bravo, ela merece um espetáculo só pra ela. Como disse Carlos, aquela voz pode tudo!
Dreamgirls é um filme que soa como um filme antigo reunindo vários filmes antigos. Gostei do filme. Ele tem momentos aqui e acolá de emoção verdadeira, aliás é buscando fisgar o espectador pela emoção, que o diretor Bill Conton peca pelo exagero. Essencialmente, o personagem de Jamie Foxx me fez lembrar a história de Elvis Presley, dos Jackson Five e de Tina Tunner, entre outros, que tiveram de sucumbir às “atrocidades do bem” de seus produtores e empresários no início da carreira (aliás até nosso Cauby teve seu “padrinho”). Só não entendi porque a Jennifer Hudson concorreu, e ganhou, ao Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante. Para mim, a sua personagem é a espinha dorsal da história. Talvez tenha sido para não ofuscar o “brilho” de Beyonce Knowles.
Enfim e por fim, fica a impressão de que é mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro. Estas fugas para um passado mais delicado e com promessas de felicidade futura, que anda impregnando a arte, nas suas várias linguagens, faz-nos, por lapsos de momentos, superar a fragmentação descontrolada da nossa vida presente. Não sei em que momento, mas perdemos algo que tem causado todos estes sustos (se é que alguém ainda se assusta) dos tempos modernos. Sem dúvida, é sim, mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro. E isso é triste!
5 comentários:
Fala sério que vc gosta mesmo de musical.
Vc é fan da Lisa Migneli?
mano, bom te ler por aqui também. fiquei curioso pra ver esse musical com Dusek, artista que gosto muito. abraços
Mão, gosto de arte no plural. Gosto de gostar, de ver, de experimentar a arte! Confesso não conhcer muito o trabalho da Lisa Minelli. Agradeço tua leitura.
Linaldo, o prazer é meu, com sua passagem por aqui.
léo
que bom que estas aproveitando bem a vida cultural no Rio.
estaremos atentos daqui...um dia talvez chegue em nossa terra uma produção musical... heheheh... daí poderemos trocar figurinhas.Mas enquanto isso não for possível, me deleito lendo seus texto e fico informado do que está rolando!!!
abraços
Caráááca maluco!!! Que puta inveja de você Leo!!!!! Eu sou muuuuito fã de musical, muito mesmo, e, saco, provavelmente vou ter de torcer, rezar, pra que eu possa assistir a esses musicais aqui em Curita. Coisas da vida.
Convém dizer que estou escrevendo esquetes no formato teatro de revista/chanchada que, como se sabe, contarão com números musicais roteirizados no desenrolar da estória. É muuuuito mais modesto que um musical desses que você assistiu, mas é muuito ambicioso quanto à 'mensagem', hehehehe!!!!
Pra quem não gosta de musical, recomendo a leitura da revista Bravo! deste mês de março. Há uma matéria grande sobre essa safra (boa) de musicais que culmina num texto lindo, publicado sobre a imagem de Gene Kelly cantando na chuva, que, verdade, me levou lágrimas aos olhos. Quem faz piada (tosca por sinal)com musicais precisa ler este texto. Se se emocionar é porque realmente tem sensibilidade estética. Se não, será somente o caso de um piadista burro.
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