Ainda não havia sido escrito nenhum texto específico sobre Literatura aqui no blog, mas, como esta semana comemoramos o dia da poesia (14 de março - por isso este belo poema de Augusto de Campos Rosa para Gertrude ilustrando este post), resolvi revisar e sintetizar um texto meu já publicado, sobre Literatura Homoerótica.
A primeira questão que nos inquieta é se realmente a literatura (e a arte no geral) precisa ser classificada em homoerótica, panfletária, feminina etc e tal. Acredito que sim, mas só para fins didáticos e de pesquisa, pois a literatura homoerótica, para firmar-se como literatura, acredito, precisa estar dentro e junto – apresentando todas as singularidades da boa escrita – e não separada e periférica, como um resultado ao contrário da “luta” de alguns engajados.
Tratar da Literatura Homoerótica ainda é tão complicado e difícil quanto a discussão sobre o desejo homoerótico em si, hajam vistos os preconceitos, mesmo de acadêmicos, que ainda giram em torno do assunto. Denílson Lopes, em seu livro O homem que amava rapazes e outros ensaios, afirma que a literatura gay não é aquela que retrata apenas o cotidiano sexual dos indivíduos com inclinação homoerótica, mas, principalmente, é aquela que transforma em arte a experiência do “sair do armário”, atitude que implica sérias conseqüências, longe dos estereótipos sociais e midiáticos.
A maioria dos estudiosos sobre o assunto concorda que o Brasil iniciou-se no campo da literatura homoerótica com Bom-Crioulo (1895), do cearense Adolfo Caminha. Desde então, apesar das severas críticas de alguns segmentos da sociedade e das rejeições do mercado editorial, fazem parte da produção literária brasileira, textos gays e lésbicos.
Isso se intensifica nas idéias e pensamentos libertários da contracultura dos anos 60/70, mas é a partir das décadas de 80/90, quando a “homossexualidade” deixa de ser considerada doença, pelo Conselho Federal de Medicina, com a luta dos movimentos gay-lésbicos, em defesa dos diretos destes, que acontece o impulso para a propagação dessa literatura.
Foucault, ao tratar desse assunto em Um diálogo sobre os prazeres do sexo, afirma que com o repúdio da cultura cristã sobre o homoerotismo, a literatura homoerótica “concentra sua energia no próprio ato sexual”, pois não se permitiu ao indivíduo homoeroticamente inclinado elaborar um sistema de corte, “uma vez que lhes foi negada a expressão cultural necessária a essa elaboração”. Já Jurandir Costa Freire, em A inocência e o vício, diz que “a AIDS realçou definitivamente o arcaísmo cultural da noção de homossexualidade”, mas certamente também marcou a proliferação de escritos sobre o tema.
E Severo Sarduy, em “O Barroco e o Neobarroco”, leva-nos a concluir que o erotismo praticado pelos indivíduos homoeroticamente inclinados é um símbolo do jogo com o objeto perdido, haja vista a violação da finalidade, estabelecida pela visão clássica (judaico-cristã), para os corpos. Desse modo, o erotismo praticado pelos gays afirma uma incerteza, abrindo espaço para a contradição com os padrões da “normalidade” estabelecida.
A presença da temática homoerótica na literatura brasileira é bastante forte: Glauco Mattoso, Caio Fernando Abreu, Raul Pompéia, Valdo Mota, Roberto Piva... Sem esquecermos os inúmeros poemas e contos gays (muitos de qualidade duvidosa, como em qualquer tipo de literatura) que saltitam o tempo todo, tanto em sites direcionados ao público gay, ou não.
Por fim, acredito que é importante saber como a arte pode contribuir para uma visão mais sutil das relações afetivas entre “iguais” e como a discussão sobre o homoerotismo pode contribuir na compreensão da arte contemporânea.
Em tempo: Acabei de ler A cidade e o pilar (1948), de Gore Vidal, um dos primeiros romances do amor masculino da literatura norte-americana. Romance cujo núcleo central é o amor entre dois jovens que, para um deles, se transforma em obsessão na vida adulta.
O livro não levanta bandeira, nem faz apologia ao amor gay e exatamente por isso, trata o tema de forma normal impingindo a normalidade que o assunto requer.
Tratar da Literatura Homoerótica ainda é tão complicado e difícil quanto a discussão sobre o desejo homoerótico em si, hajam vistos os preconceitos, mesmo de acadêmicos, que ainda giram em torno do assunto. Denílson Lopes, em seu livro O homem que amava rapazes e outros ensaios, afirma que a literatura gay não é aquela que retrata apenas o cotidiano sexual dos indivíduos com inclinação homoerótica, mas, principalmente, é aquela que transforma em arte a experiência do “sair do armário”, atitude que implica sérias conseqüências, longe dos estereótipos sociais e midiáticos.
A maioria dos estudiosos sobre o assunto concorda que o Brasil iniciou-se no campo da literatura homoerótica com Bom-Crioulo (1895), do cearense Adolfo Caminha. Desde então, apesar das severas críticas de alguns segmentos da sociedade e das rejeições do mercado editorial, fazem parte da produção literária brasileira, textos gays e lésbicos.
Isso se intensifica nas idéias e pensamentos libertários da contracultura dos anos 60/70, mas é a partir das décadas de 80/90, quando a “homossexualidade” deixa de ser considerada doença, pelo Conselho Federal de Medicina, com a luta dos movimentos gay-lésbicos, em defesa dos diretos destes, que acontece o impulso para a propagação dessa literatura.
Foucault, ao tratar desse assunto em Um diálogo sobre os prazeres do sexo, afirma que com o repúdio da cultura cristã sobre o homoerotismo, a literatura homoerótica “concentra sua energia no próprio ato sexual”, pois não se permitiu ao indivíduo homoeroticamente inclinado elaborar um sistema de corte, “uma vez que lhes foi negada a expressão cultural necessária a essa elaboração”. Já Jurandir Costa Freire, em A inocência e o vício, diz que “a AIDS realçou definitivamente o arcaísmo cultural da noção de homossexualidade”, mas certamente também marcou a proliferação de escritos sobre o tema.
E Severo Sarduy, em “O Barroco e o Neobarroco”, leva-nos a concluir que o erotismo praticado pelos indivíduos homoeroticamente inclinados é um símbolo do jogo com o objeto perdido, haja vista a violação da finalidade, estabelecida pela visão clássica (judaico-cristã), para os corpos. Desse modo, o erotismo praticado pelos gays afirma uma incerteza, abrindo espaço para a contradição com os padrões da “normalidade” estabelecida.
A presença da temática homoerótica na literatura brasileira é bastante forte: Glauco Mattoso, Caio Fernando Abreu, Raul Pompéia, Valdo Mota, Roberto Piva... Sem esquecermos os inúmeros poemas e contos gays (muitos de qualidade duvidosa, como em qualquer tipo de literatura) que saltitam o tempo todo, tanto em sites direcionados ao público gay, ou não.
Por fim, acredito que é importante saber como a arte pode contribuir para uma visão mais sutil das relações afetivas entre “iguais” e como a discussão sobre o homoerotismo pode contribuir na compreensão da arte contemporânea.
Em tempo: Acabei de ler A cidade e o pilar (1948), de Gore Vidal, um dos primeiros romances do amor masculino da literatura norte-americana. Romance cujo núcleo central é o amor entre dois jovens que, para um deles, se transforma em obsessão na vida adulta.
O livro não levanta bandeira, nem faz apologia ao amor gay e exatamente por isso, trata o tema de forma normal impingindo a normalidade que o assunto requer.
2 comentários:
Obrigado pela visita, Leonardo.
Eu tenho esse dilema com classificação de literatura. No entanto eu mesmo classifico: a boa literatura e a má literatura. Discuti isso com uma amiga do Rio, que veio aqui palestrar sobre Literatura Feminina. Então... buscar especificidades para essa classificação é tarefa para muitas leituras, é uma tarefa davina. rsrs
Um abraço!
Lau
PS. Tem post novo no Poesia Sim
Ufa
Leo, muito bacana o texto, didático, de referência, gostei e ponto, mas não vou comentar não... Sabe o que é, é que estou totalmente arrepiado com o poema ao lado "Muitos em um...". Caraca! Queria eu ter alguém que escrevesse algo assim para mim, ou ter alguém que me causasse tamanha inspiração. Sem palavras. Beijos para vocês, com um amor e admiração que querem ser maiores a cada dia.
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