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segunda-feira, setembro 08, 2014

Beije minha lápide

Jô Bilac consegue equilibrar em seus textos para teatro o humor e a firmeza na crítica dos comportamentos humanos contemporâneos, sempre calcado na retomada de certa ironia nelson-rodriguiana. Mas tendo a melancolia como ingrediente principal. Melancolia resultado e promoção de interdições das relações interpessoais.
Já em "Beije minha lápide" o que fica do texto de Bilac é o texto de Oscar Wilde. Os diálogos, os monólogos, as imagens, tudo é leitura de Wilde. A toda hora a mesma sensação de colagem, citação, reminiscência, fragmentos de textos.
Sendo um elogio à vida e à obra de Oscar Wilde, a interdição está materializada na cela-redoma de vidro que separa a personagem Bala (Marco Nanini) da liberdade, num duplo da redoma que separa a lápide de Wilde dos beijos de seus fãs no cemitério de Paris. Bala está preso por ter efetivamente quebrado o vidro em torno do túmulo do escritor irlandês. Também escritor, Bala é duplo de Wilde, parece estar escrevendo (ou encenando) o seu "De profundis". Ambos presos por colocarem em xeque as regras do jogo de xadrez que a vida é.
Para a eficácia da encenação, trabalha a direção correta e inspirada de Bel Garcia. Além das presenças de Carolina Pismel, Júlia Marini e Paulo Verlings. Atores da Cia. Teatro Independente que não se intimidam com a coadjuvância de suas personagens.
Posto que os tempos são outros, se Bala não está preso por sodomia, a personagem questiona as identidades socialmente aprovadas e as falsas ideias de liberdades individuais que nos cercam.  Por fim, melancolicamente, "Beije minha lápide" tematiza a liberdade. Estende-se sobre ela, desdobrando-se em efeitos e causas.

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