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terça-feira, julho 06, 2010

O escritor e a escrita

Livros com depoimentos, correspondências e entrevistas com escritores (ou não) surgem à mancheia. Porém, no livro “Diálogos oblíquos” (1999), verdadeiro primor diante de tantos livros “similares” que alimentam o nosso mau voyeurismo (apesar de dizer muito sobre nós), não bastassem as entrevistas, que nos permitem o contato com alguns dos criadores mais significativos de nossa recente história literária, Bella Jozef agracia o leitor com uma espécie de teoria da entrevista.
Essa coletânea de perguntas e respostas que 34 escritores latino-americanos desenvolveram, em épocas distintas, junto à ensaísta e professora Bella Jozef é, sem dúvida, uma fonte rara de pesquisa e deleite para todo leitor atento ao fazer literário.
Em “Diálogos oblíquos” o enfoque é a criação, suas margens e alcances. Através do confronto do artista com a obra, Josef estimula o pensamento sobre o conflito humano e sua representação pela literatura. A resposta para a pergunta “o que é um escritor latino-americano?” atravessa o livro e dispara outras perguntas e imersões filosóficas.
A desterritorialização do texto, apesar da nacionalidade do autor; as geografias do espaço; o condicionamento das circunstâncias sócio-políticas; o diálogo entre o ser e o mundo; a relação (de amor e ódio) com a palavra; o rompimento das fronteiras entre os países, principalmente pós anos 1960; a conservação da memória; a ruptura da inspiração rural e o caminho urbano; e como a literatura latino-americana é herdeira de todas as literaturas, são alguns dos temas tratados.
Sob a orquestração de Josef, o exilado Severo Sarduy afirma que nunca saiu de Cuba; o argentino Jorge Luis Borges diz que o escrito deve ser verdadeiro com a imaginação, já que a realidade referencial não satisfaz; e Octávio Paz teoriza sobre a inspiração.
Ao final, percebemos como determinados temas se repetem (a invenção de uma mitologia e as incidências do real, por exemplo) no imaginário latino-americano e, consequentemente, na literatura feita por aqui.
“Diálogos oblíquos”, com Manuel Puig falando da imposição do instante e Mário Vargas Llosa investigando o nascimento das personagens, entre outras pérolas, é fonte de sabedoria. Ler estes autores, cada um com suas (ir)regularidades, leva-nos a concluir que a literatura (latino-americana, ou não) é trabalho intelectual (tensionamento da dúvida), exaustivo e necessário, tanto para quem faz, quanto para quem lê e consome.

Texto publicado no jornal A União, em 17/07/2010


Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Show Voz e violão (Márcia Nascimento Gonçalvez) - Com voz segura e quente, Márcia enriquece canções raras e under: de Zeca Afonso, Raimundos, Cazuza e outros "marginais".
= Show Sweet Jardim (Tiê) - Todo terno, o show é uma boa tradução do disco de mesmo nome.
= Show Efêmera (Tulipa Ruiz) - Com atitude rock e totalmente demais!
= Show Certa manhã acordei de sonhos intranquilos (Otto) - SIM: ver Otto no palco é sentir (na pele) que a vida vale a pena.
= Filme Kick-ass - O filme mais inteligente do ano!!!
= Filme Le petit Nicolas - O melhor filme do ano!!!
= Filme I love you Phillip Morris - Humor ácido e mais uma prova do quão excelente ator Ewan McGregor é.
= Filme Patrick 1,5 - Bom e atual mote, mas com roteiro arrastado.
= Peça Genet: os anjos devem morrer - Diluição pura, apesar da honesta intenção.
= Musical Gota d'água - Arrebatador! A entrega dos atores; a música; e as canções que entraram para nosso cotidiano.

3 comentários:

Carlos disse...

Esse livro já me havia sido sugerido uma vez e acabei não chegando até ele. Ótimo o seu texto e grato pela lembrança de que preciso lê-lo. Grande abraço.

Leonardo Villa-Forte disse...

Oi Leonardo. Legal que está gostando do MixLit, fico feliz. Puxa, li o que você escreveu sobre o Diálogos Oblíquos e me pareceu realmente um ótimo livro. Ia perguntar onde você conseguiu o livro, mas agora vi vários a disposição na Estante Virtual. Acho que vou comprar um. Ótimo blog aqui. E o seu 365 canções também me parece um projeto interessante, vou ler com mais atenção depois. Um abraço, Leonardo.

Unknown disse...

Definitivamente,

"O Pequeno Nicolau" é o melhor filme do ano. Talvez o melhor que já assisti. Como foi bom gargalhar (várias vezes). Num cinema! ai ai..