O xote, o xaxado e o baião, com suas derivações, sempre estiveram presentes na obra de Gilberto Gil. Vira e mexe, é possível identificar as matrizes do sertão nordestino impregnando as canções de Gil com sonoridades de puro encantamento e ritmo.
Fé na festa, novo disco de Gil, adensa estas miradas nordestinas utilizando os estratos melódicos/rítmicos e os temas das noites de céu em festa: noites de São João. A festa que, como o mundo, segue a pulsação e as variações impostas pelo tempo. Pesco "O livre atirador e a pegadora", um xote dengoso, como pretexto de minhas observações.
O sujeito da canção sente o clima sensual das noites frias de junho, mas expande seu canto para o comportamento dos brincantes (aqueles que vão, e fazem, à festa) dos festejos populares do Brasil inteiro. "Vale pro Rio, São Paulo, pra Bahia", canta.
O mote é o malfadado e desejado "vale-night" (outrora conhecido como "alvará de soltura" ou "alforria"). Ele é a solução para a agonia daqueles que querem curtir a festa, com liberdade, mas não querem ficar mal com seus parceiros (fixos). O "passaporte da alegria" atesta e formaliza a ideia de que "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". Mas, óbvio, como toda formalidade, o vale (night or day) tem um prazo de validade, estabelecido pelos namorados.
Sem juízo de valor, ou qualquer falsa moral, o sujeito, meio confuso, canta (observa e registra) o novo modelo ético-erótico-afetivo estabelecido pelas pessoas na festa, em que a quantidade de "ficadas" ("muita performance, muita parada") despoleta, ou não, a qualidade das relações, tão quentes e frágeis quanto uma brasa de fogueira. Ou, como canta o sujeito melancólico da canção “Estela azul”, frágil como um balão de seda, porém, sem o stress das relações românticas, com suas pressões e cobranças intrínsecas.
O sujeito de “O livre atirador e a pegadora” não sabe mais como definir os casos eróticos: "Não é casal porque não são casados, não é um par porque logo são três, ou mais" e vaticina "amor pra eles é amor pletora". Nomes de bandas, tais como Timbalada, Babado Novo, Psirico e Calcinha Preta, viram substantivos e adjetivos que espelham e espalham a sensualidade pela noite afora.
Fé na festa, com Gil xaxando no barro, na capa, indicia as mudanças na paisagem das noites de São João e a fé na continuidade da festa. Memórias e sintomas se justapõem para concluir que afinal é preciso mudar para permanecer.
O sujeito da canção sente o clima sensual das noites frias de junho, mas expande seu canto para o comportamento dos brincantes (aqueles que vão, e fazem, à festa) dos festejos populares do Brasil inteiro. "Vale pro Rio, São Paulo, pra Bahia", canta.
O mote é o malfadado e desejado "vale-night" (outrora conhecido como "alvará de soltura" ou "alforria"). Ele é a solução para a agonia daqueles que querem curtir a festa, com liberdade, mas não querem ficar mal com seus parceiros (fixos). O "passaporte da alegria" atesta e formaliza a ideia de que "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". Mas, óbvio, como toda formalidade, o vale (night or day) tem um prazo de validade, estabelecido pelos namorados.
Sem juízo de valor, ou qualquer falsa moral, o sujeito, meio confuso, canta (observa e registra) o novo modelo ético-erótico-afetivo estabelecido pelas pessoas na festa, em que a quantidade de "ficadas" ("muita performance, muita parada") despoleta, ou não, a qualidade das relações, tão quentes e frágeis quanto uma brasa de fogueira. Ou, como canta o sujeito melancólico da canção “Estela azul”, frágil como um balão de seda, porém, sem o stress das relações românticas, com suas pressões e cobranças intrínsecas.
O sujeito de “O livre atirador e a pegadora” não sabe mais como definir os casos eróticos: "Não é casal porque não são casados, não é um par porque logo são três, ou mais" e vaticina "amor pra eles é amor pletora". Nomes de bandas, tais como Timbalada, Babado Novo, Psirico e Calcinha Preta, viram substantivos e adjetivos que espelham e espalham a sensualidade pela noite afora.
Fé na festa, com Gil xaxando no barro, na capa, indicia as mudanças na paisagem das noites de São João e a fé na continuidade da festa. Memórias e sintomas se justapõem para concluir que afinal é preciso mudar para permanecer.
Texto publicado no jornal A União, em 13/06/2010
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Ópera Il Trovatore - A montagem asséptica de Bia Lessa investe na palavra e no canto.
= Peça 3 horizontes - Um trabalho bem cuidado.
= Filme A single man - Asséptico e bonito. O final poderia ser diferente, apesar dos índices.
= Filme El secreto de sus ojos - Como o filme feito na Argentina é vigoroso!
= Filme Date night - Feito para o brilho dos protagonistas.
= Filme Plano B - Bobinho, mas desopilante.
= Filme Soul Kitchen - Humor, ação e atuações incríveis.
= Dança Mané gostoso - Boa amostra da malemolencia nordestina.
= Dança Intérieur nuit - Jean-Baptiste Andre se põe inteiro para registrar a angústia título.
2 comentários:
Dá vontade de escutar o disco. Salve o mestre Gil! E cara, que trabalho gostoso! Me leva pra trabalhar com vc! [hehe]
Muito bom seu texto, ainda não ouvi o disco do Gil, mas com certeza mesmo ser mto bom (inda mais para quem é tropicalista).Já baixei mas minha copiadora está com problema e não consigo "fazer virar cd", mas será o primeiro disco que vou ouvir assim que trocá-la. Parabéns pela publicação, grande abraço!!!
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