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segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Aqueles quatro

Caio Fernando Abreu é um autor bastante conhecido. Infelizmente, alguns de seus textos ganharam sofríveis adaptações para cinema e teatro. Salvos a memorável “Dama da noite”, criada por Gilberto Gawronski e a peça “Aqueles dois”, da Cia. Luna Lunera.
“Aqueles dois”, do livro Morangos mofados, é um conto excepcionalmente machadiano, com estruturas, ironias e insinuações trabalhadas para deixar nas mãos do leitor a tarefa de fechar a questão. O texto trata da relação entre Raul (moço do norte que tem um sabiá chamado Carlos Gardel) e Saul (moço do sul, com seu livro de reproduções de Van Gogh), tendo como pano de fundo São Paulo e uma repartição pública: “um deserto de almas”.
Mas, como em Machado de Assis, neste conto de Caio Fernando, o mais desafiador estar em perceber as sutilezas formais do texto do que em responder a débil pergunta se Raul e Saul são mais do que amigos. Afinal, quais são os limites da amizade?
Os principais êxitos da adaptação são: o entendimento do universo criado pelo autor e a interpretação consciente dos quatro atores em cena: Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Rômulo Braga. Os quatros assinam a direção e a dramaturgia, junto com Zé Walter Albinati. O resultado é um trabalho honesto e competente. Os atores se revezam na interpretação das duas personagens (nenhum dos quatro sai de cena), estabelecendo uma leitura e apresentação plural das ações, dinamizando as situações e embaralhando a percepção do público, como o texto faz com o leitor.
O cenário merece atenção e destaque. Tendo como base um tatame cercado por inúmeros objetos, que são manipulados ora para montar o ambiente doméstico de cada personagem, ora para impor o desértico espaço da repartição, ele nunca fica vazio. Há sempre resíduos de um lugar interferindo no outro, sugerindo a luta psíquica e física enfrentada por Raul e Saul. Os figurinos são funcionais e a trilha sonora é exata.
Em um trabalho cercado de tantos cuidados, mas, ao mesmo tempo, tão despojado em sua totalidade e capacidade de transmitir a história (com o aspecto de um grande ensaio aberto), não dá para deixar de elogiar, mais uma vez, a competência dos atores-diretores. O conto de Caio Fernando Abreu é demasiado humano (com avanços e recuos). A peça capta e entrega ao público o humano contido no texto, mas, e aí reside a beleza das boas montagens, a peça “Aqueles dois” amplia a engenhosidade do texto.

Texto publicado no Jornal A União em 30/01/2010
E no site da Secretária de Cultura do Rio:
http://www.cultura.rj.gov.br/artigos/aqueles-quatro

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Filme Sherlock Homes - Humor e ação a serviço de um personagem clássico.
= Filme Amor sem escalas - Atual e com roteiro bacana.
= Filme Chèri - A cenografia, o trabalho de arte e o figurino são incríveis.
= Show Todos Dominguinhos (Flávia Bittencout) - Uma bela homenagem ao mestre.
= Dança Boca do lobo (Cia. Renato Vieira) - Renato Vieira e Bruno Cezário assumem o risco de, através do brilho apolíneo, revelarem a pulsão dionisíaca de todos nós.
= Peça Macbeth - Ver Renata Sorrah em texto clássico é sempre um deslumbre.
= Peça Carmen, o it do Brasil - Honesta tentativa de homenagear nossa grande estrela.
= Exposição José Patrício: o número - Excelente trabalho visual. Até 07/03, na Caixa Cultural.
= Livro Cabeça a prêmio (Marçal Aquino) - A melhor narrativa policial(!) que já li. Forma e conteúdo em perfeito equilíbrio.

4 comentários:

Odilon disse...

ei Leonardo
li agora seu texto sobre Aqueles Dois
eu sou um dos atores da peça...
muito obrigado... muito bonito!
um abraço grande

Eduardo disse...

Muito boa sua resenha! Belo espetáculo mesmo! Pretendo rever pós carnaval. Vamos? Abçs.

Anônimo disse...

parabens pelo blog...
Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...
é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS.

Anônimo disse...

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