Pesquisar neste blog

terça-feira, janeiro 12, 2010

2000inove passou

Destacar os melhores de 2009 não é tarefa fácil. Mas dou minha contribuição, neste período de balanços e expectativas, apontando o que continuará (me) tocando em 2010.
Na música tivemos: “Pelo sabor do gesto”, disco que confirma Zélia Duncan como uma das cantoras que melhor sabe escolher repertório; “Certa manhã acordei de sonhos intranquilos”, de Otto, é um objeto híbrido capaz de amalgamar vários matizes do experimento cancional; além do denso e redentor “Zii e Zie”, de Caetano Veloso; e do avassalador “Maria Alcina confete e serpentina”, da sempre fulgurante Maria Alcina.
No teatro tivemos desde a ousada montagem de “Medida por medida”, de Shakespeare, dirigida por um virtuoso Gilberto Gawronski; passando pela força da montagem absurdamente seca e precisa de "Barrela", com o pessoal do Nós do Morro; e pelo lirismo sarcástico de "In on it", com direção de Emílio de Neto.

Entre as exposições, frente ao luto pelo incêndio que destruiu parte do acervo de Hélio Oiticica: “Obranome II” reuniu os mais significativos objetos da poesia visual do Brasil; “Pierre et Gilles – a apoteose do sublime” trouxe alguns bons exemplos da obra da dupla francesa; e “Vertigem”, dos gêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo, mostrou a união do grafite com o realismo fantástico típicos dos irmãos.

Já no cinema, alheio à invasão dos vampiros, 2009 teve: o bonito “Milk”, com um competente Sean Penn; o diagnóstico preciso de “Entre os muros da escola”; e o inquietante e pop “(500) dias com ela”. Por aqui, “Coração vagabundo”, “Palavra (en)cantada”, “Dzi Croquettes” e “Simonal – ninguém sabe o duro que dei” se destacam entre os documentários (categoria reinante) que retrataram figuras e épocas que contribuem para a riqueza da canção e da cultura brasileiras. Mas, certamente, o velhinho Carl Fredricksen, de “Up – altas aventuras”, roubou a cena.

Na literatura, tivemos o lançamento de “Vinis mofados”, o aguardado livro de poesia de Ramon Mello. Além de registrar como o diálogo entre canção e poesia é muito tênue, o autor consegue, através de versos rápidos (mas demonstradores de boa lapidação), imprimir o cotidiano de forma tão prazerosa (mesmo com dor) que a vida parece mesmo valer a pena; além do livro “Entre milênios”, reunião póstuma dos escritos de Haroldo de Campos, que mostra o mestre atento ao novo e à tradição.
Mas entre as surpresas de 2009 (ano do centenário de Carmen Miranda), Sílvia Machete é rainha. Com presença e voz marcantes, suas bolhas de sabão fizeram o ano passar mais leve. A outra impactante surpresa foi ouvir Pedro Miranda. Sua voz (com algo de Clementina de Jesus) é forte e doce, cheia de tradição, mas sem se desconectar de seu tempo. O cd “Pimenteira” é o melhor (pela revelação) de 2009.


Que 2010 seja cheio de mais e outras boas surpresas!

Texto publicado no Jornal A União em 15/01/2010

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Peça Laranja azul - Com atuações convincentes, a peça discute até que ponto manipulamos os outros, ao final fica a certeza de que "a razão dá-se a quem tem".
= Peça Barrela - O pessoal do Nós do Morro conseguiu ampliar a força da peça de Plínio Marcos e imprimir vigor ao tema retratado.
= Peça Mediano - É muito gratificante ver um ator, consciente do seu ofício, em cena.

= Filme Deixe ela entrar - Um dos melhores do gênero.

= Filme Do começo ao fim - Um mote excelente, muito mal glosado, apesar da qualidade técnica.

= Filme Lula, o filho do Brasil - Muito bem feito!

= Show Pelo sabor do gesto (Zélia Duncan) - Com repertório perfeito, o show flui junto com a energia da cantora.

= Livro O homem casado (
Edmund White) - Narrativa, algo romântica no modo de se desenvolver, bastante envolvente.

= Livro Noites tropicais (Nelson Motta) - Memórias alucinantes que iluminam a história da nossa canção: da Bossa Nova ao surgimento das duplas sertanejas.

= Livro Cartas de um sedutor (Hilda Hislt) - A narrativa estilhaçada é impressionantemente funcional para o objetivo da mensagem.

Nenhum comentário: