Há situações em que a emoção tende a se sobrepor ao senso crítico. Digo isso para tentar “justificar” meu deslumbramento sobre o show de Caetano Veloso e Roberto Carlos, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Passados alguns dias, ainda guardo todas as sensações. O espetáculo celebrou os 50 anos da bossa nova com repertório visitando a obra de Antonio Carlos Jobim. Não deu pra segurar. Durante a apresentação, as lágrimas rolaram algumas vezes. Eu sabia que estava presenciando um grande momento. E foi muito mais que isso.
Quando apagaram as luzes e abriram as cortinas do belo teatro, ao som da “ouverture” da trilha sonora de “Orfeu da Conceição”, lá estavam três representantes de significativos momentos de nossa música popular. Jobim (em espírito) e a bossa nova, Roberto e a Jovem Guarda, Caetano e a Tropicália. Um delicioso "ménage à trois".
Roberto Carlos mostrou desenvoltura impecável. Atitude de rei. Contrastando com Caetano que algumas vezes, já havia reparado em outros shows, passa a impressão de estar pouco a vontade no palco. Mas foi lindo vê-lo cantar “Caminho de pedra”, o quase aboio de Jobim, que já teve um primoroso registro na voz de Elizeth Cardoso.
A platéia, onde predominavam fãs de Roberto, permaneceu acesa o tempo todo. Ouvir os dois cantando juntos “Samba do avião” me fez lembrar os meus primeiros dias de morada aqui no Rio. E emendaram “Tereza da praia”, fazendo com graça o diálogo dos amigos apaixonados pela mesma mulher.
Belíssimo também foi o acompanhamento de uma competente orquestra de cordas, sob regência dos maestros Jaques Morelembaum e Eduardo Lage. Além de músicos exclusivos para cada um dos dois artistas e a presença pontual de Daniel Jobim no piano. O cenário de Daniela Thomas, inspirado nos traços de Oscar Niemeyer, cumpriu sua função sem afetação e a direção de Monique Gardenberg e Felipe Hirsch foi correta.
Dias depois li matéria em jornal apontando “deslizes” na atuação de Caetano, como entradas atrasadas em algumas músicas. Penso que, com sua “dicção de camaleão”, como já apontou Luiz Tatit, há mais estilo que propriamente erro no seu cantar.
Ia esquecendo. Não senti nenhum cheiro de “naftalina”, como sugeriram os “críticos” de dois jornais de São Paulo. Enfim, como sabemos, falar mal gratuitamente do trabalho de artistas como Caetano e Roberto ainda alimenta o ego de alguns. Fazer o que?
* Texto publicado no jornal A União PB 06/09/2008
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Peça A última gravação de Krapp e Ato sem palavras 1 – Oportunidade de ver Sergio Britto interpretando, mais uma vez, textos de Samuel Beckett. São duas atuações bens distintas, num mesmo espetáculo, mas sempre sobre a angústia de algo que se perdeu, ou que está se perdendo. A paixão de Britto pelo teatro é perceptível em cada gesto - sempre mínimo, mas cheio de significação. No teatro do Oi Futuro.
= Peça Contando Machado de Assis – O excelente ator José Mauro Brant presenta um trabalho despretencioso, pautado na contação do conto "Missa do galo" e capítulos de "Mariana", de Machado de Assis. Brant sabe apagar do expectador, com sua leitura singular dos textos machadianos e sua qualidade como intérprete, qualquer espectativa de um grande espetáculo. Tudo é meticulosamente lançado às entrelinhas, bem ao gosto do autor. Teatro de Arena da Caixa Cultural.
= Peça Monstra – Sob direção de Jorge Fernando, Patricya Travassos apresenta um texto próprio numa peça que, sem dúvida, renderá uma longa temporada. O texto trata das "dores e delícias" de ser mulher na contemporaneidade, mas é mais que isso. Travassos tem sacadas inteligentes que agradam em cheio o público. Demonstração de que o tema ainda rende bons trabalhos. Teatro dos Quatro.
= Peça Aux pieds de la lettre – O fabuloso grupo de teatro gestual Dos a Deux apresenta um trabalho consistente de interpretação, pesquisa e montagem de um verdadeiro espetáculo teatral, em que o corpo do ator é segundo a segundo testado, desfeito e remontado diante do público. Teatro Nelson Rodrigues.
Quando apagaram as luzes e abriram as cortinas do belo teatro, ao som da “ouverture” da trilha sonora de “Orfeu da Conceição”, lá estavam três representantes de significativos momentos de nossa música popular. Jobim (em espírito) e a bossa nova, Roberto e a Jovem Guarda, Caetano e a Tropicália. Um delicioso "ménage à trois".
Roberto Carlos mostrou desenvoltura impecável. Atitude de rei. Contrastando com Caetano que algumas vezes, já havia reparado em outros shows, passa a impressão de estar pouco a vontade no palco. Mas foi lindo vê-lo cantar “Caminho de pedra”, o quase aboio de Jobim, que já teve um primoroso registro na voz de Elizeth Cardoso.
A platéia, onde predominavam fãs de Roberto, permaneceu acesa o tempo todo. Ouvir os dois cantando juntos “Samba do avião” me fez lembrar os meus primeiros dias de morada aqui no Rio. E emendaram “Tereza da praia”, fazendo com graça o diálogo dos amigos apaixonados pela mesma mulher.
Belíssimo também foi o acompanhamento de uma competente orquestra de cordas, sob regência dos maestros Jaques Morelembaum e Eduardo Lage. Além de músicos exclusivos para cada um dos dois artistas e a presença pontual de Daniel Jobim no piano. O cenário de Daniela Thomas, inspirado nos traços de Oscar Niemeyer, cumpriu sua função sem afetação e a direção de Monique Gardenberg e Felipe Hirsch foi correta.
Dias depois li matéria em jornal apontando “deslizes” na atuação de Caetano, como entradas atrasadas em algumas músicas. Penso que, com sua “dicção de camaleão”, como já apontou Luiz Tatit, há mais estilo que propriamente erro no seu cantar.
Ia esquecendo. Não senti nenhum cheiro de “naftalina”, como sugeriram os “críticos” de dois jornais de São Paulo. Enfim, como sabemos, falar mal gratuitamente do trabalho de artistas como Caetano e Roberto ainda alimenta o ego de alguns. Fazer o que?
* Texto publicado no jornal A União PB 06/09/2008
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Peça A última gravação de Krapp e Ato sem palavras 1 – Oportunidade de ver Sergio Britto interpretando, mais uma vez, textos de Samuel Beckett. São duas atuações bens distintas, num mesmo espetáculo, mas sempre sobre a angústia de algo que se perdeu, ou que está se perdendo. A paixão de Britto pelo teatro é perceptível em cada gesto - sempre mínimo, mas cheio de significação. No teatro do Oi Futuro.
= Peça Contando Machado de Assis – O excelente ator José Mauro Brant presenta um trabalho despretencioso, pautado na contação do conto "Missa do galo" e capítulos de "Mariana", de Machado de Assis. Brant sabe apagar do expectador, com sua leitura singular dos textos machadianos e sua qualidade como intérprete, qualquer espectativa de um grande espetáculo. Tudo é meticulosamente lançado às entrelinhas, bem ao gosto do autor. Teatro de Arena da Caixa Cultural.
= Peça Monstra – Sob direção de Jorge Fernando, Patricya Travassos apresenta um texto próprio numa peça que, sem dúvida, renderá uma longa temporada. O texto trata das "dores e delícias" de ser mulher na contemporaneidade, mas é mais que isso. Travassos tem sacadas inteligentes que agradam em cheio o público. Demonstração de que o tema ainda rende bons trabalhos. Teatro dos Quatro.
= Peça Aux pieds de la lettre – O fabuloso grupo de teatro gestual Dos a Deux apresenta um trabalho consistente de interpretação, pesquisa e montagem de um verdadeiro espetáculo teatral, em que o corpo do ator é segundo a segundo testado, desfeito e remontado diante do público. Teatro Nelson Rodrigues.
2 comentários:
Leo,
fui assistir a uma peça no shopping da gavea essa semana, chamada "ensaios de mulheres". É uma adaptação de uma peça de um diretor francês chamada "a orquestra", se não me engano, que trata do universo feminino mas onde os atores que interpretam as mulheres são homens. Achei isso interessante, principalmente porque eles fazem um contraponto dos universos feminino e masculino quando os atores falam, no meio da peça, de suas experiências ao se travestir. Achei essa sacada fundamental pra enriquecer a peça. Fica a dica.
beijos
Tenho comido Roberto a pelo menos tres semanas e faz gosto ver.E comer.
Postar um comentário