
O livro "Carmen", de Ruy Castro é imprescindível. A frase de efeito tenta resumir o assombroso trabalho do biógrafo (são quase 600 páginas) sobre a vida da brasileira mais famosa do século XX. O cuidado com as informações e a construção da personagem marca a obra de Ruy Castro. Apesar de seguir a ordem cronológica dos acontecimentos, aqui e ali o autor faz recuos precisos, ou antecipações luminosas, a fim de instigar o leitor e criar a trama da história a ser narrada.
Ruy Castro narra em linguagem bastante próxima do leitor. Muitas vezes parece estar pensando junto com o leitor, quando, por exemplo, em mais de uma vez, atônito, diante de atitudes que certamente resultarão em algo ruim, ele pergunta: por quê? Autor e leitor ficam sem respostas, pois elas não existem, ou, se existem, escapam à racionalidade de quem está distanciado emocional e temporalmente dos fatos.
Não restam dúvidas de que Carmen, a mulher que fez o Brasil sair da toca, com sua força e presença física, eternizou as canções de seu repertório. E como fomos ingratos com Carmen! Isso enquanto intelligentsia, porque o povo, este nunca se enganou. Ele sabia (e sabe, porque ainda se embalam com suas canções) que Carmen personificava a explosão colorida da alegria de um povo que, apesar da dor, canta e é feliz. Isso não é utopia, basta observar ao redor, para perceber; basta ter os olhos livres, como Carmen, literalmente (com um toque de Dorival Caymmi), tinha; basta sair às ruas.
Perdemos tempo criticando Carmen, enquanto o que ela fazia, carregando nas costas o nome do Brasil, era dar uma resposta sublime ao nosso ato mesquinho. Não sabíamos como defini-la. Ela expunha nossa brejeirice de forma radical. Envergonhamo-nos.
Por mais que saibamos a história de Carmen, e de que modo ela tristemente acaba (ou melhor, se eterniza), é difícil não fechar o livro com a sensação de que tudo poderia ser diferente. Ficam os porquês, mas, sobretudo, as canções que ela batucou.
Texto publicado no Jornal A União em 19/02/2010
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Filme A fita branca - A crueldade se ramifica de forma lenta e certeira durante este filme (de fato) cruel.
= Peça Um navio do espaço ou Ana Cristina César - Ver Paulo José em cena é sempre um deslumbramento.
= Peça A chegada de Lampião no inferno (Cia. PeQuod de Teatro de Animação) - Mais um excelente espetáculo da Cia. Com muitas referências ao mestre Vitalino, o roteiro ganha muito no que se refere à emoção.
= Peça Pernas pro ar - Claudia Raia confirma sua veia para comédia e musical. Ela arrebenta, mesmo com texto e versões musicais fracos.
= Disco Cauby interpreta Roberto (Cauby Peixoto) - A interpretação de Cauby Peixoto dá às canções de Roberto Carlos certa dramaticidade (sem exageros) que toca fundo o coração do ouvinte.
= Exposição Cuide de você (Sofie Calle) - Calle faz do limão (a perda amorosa) uma limonada (embora ácida) fácil de apreciar.
Ruy Castro narra em linguagem bastante próxima do leitor. Muitas vezes parece estar pensando junto com o leitor, quando, por exemplo, em mais de uma vez, atônito, diante de atitudes que certamente resultarão em algo ruim, ele pergunta: por quê? Autor e leitor ficam sem respostas, pois elas não existem, ou, se existem, escapam à racionalidade de quem está distanciado emocional e temporalmente dos fatos.
Não restam dúvidas de que Carmen, a mulher que fez o Brasil sair da toca, com sua força e presença física, eternizou as canções de seu repertório. E como fomos ingratos com Carmen! Isso enquanto intelligentsia, porque o povo, este nunca se enganou. Ele sabia (e sabe, porque ainda se embalam com suas canções) que Carmen personificava a explosão colorida da alegria de um povo que, apesar da dor, canta e é feliz. Isso não é utopia, basta observar ao redor, para perceber; basta ter os olhos livres, como Carmen, literalmente (com um toque de Dorival Caymmi), tinha; basta sair às ruas.
Perdemos tempo criticando Carmen, enquanto o que ela fazia, carregando nas costas o nome do Brasil, era dar uma resposta sublime ao nosso ato mesquinho. Não sabíamos como defini-la. Ela expunha nossa brejeirice de forma radical. Envergonhamo-nos.
Por mais que saibamos a história de Carmen, e de que modo ela tristemente acaba (ou melhor, se eterniza), é difícil não fechar o livro com a sensação de que tudo poderia ser diferente. Ficam os porquês, mas, sobretudo, as canções que ela batucou.
Texto publicado no Jornal A União em 19/02/2010
Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:
= Filme A fita branca - A crueldade se ramifica de forma lenta e certeira durante este filme (de fato) cruel.
= Peça Um navio do espaço ou Ana Cristina César - Ver Paulo José em cena é sempre um deslumbramento.
= Peça A chegada de Lampião no inferno (Cia. PeQuod de Teatro de Animação) - Mais um excelente espetáculo da Cia. Com muitas referências ao mestre Vitalino, o roteiro ganha muito no que se refere à emoção.
= Peça Pernas pro ar - Claudia Raia confirma sua veia para comédia e musical. Ela arrebenta, mesmo com texto e versões musicais fracos.
= Disco Cauby interpreta Roberto (Cauby Peixoto) - A interpretação de Cauby Peixoto dá às canções de Roberto Carlos certa dramaticidade (sem exageros) que toca fundo o coração do ouvinte.
= Exposição Cuide de você (Sofie Calle) - Calle faz do limão (a perda amorosa) uma limonada (embora ácida) fácil de apreciar.