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sexta-feira, julho 29, 2011

A serbian film

Milhares (aos montes) de crianças são violentadas diariamente no Brasil e no mundo. Não me refiro exclusivamente à violência sexual, mas também à usurpação de necessidades básicas e elementares à dignidade do indivíduo e da subjetividade.
Agora mesmo, enquanto escrevo, ou você lê este texto - que é uma exaltação ao direito que cada um deve ter em decidir o que quer ou não quer fruir no campo estético - as ruas estão cheias de crianças rastejando por um prato de comida, por um abrigo, pelo direito de uma educação escolar decente.
Muitas, a fim de denegar a situação cruel que a vida lhe impõe, vítimas das drogas: geradoras de degradação física, moral e ética. Ali na esquina há pelo menos uma criança queimando uma pedra de crack, pode ir olhar. Um tamanho horror perante os céus.
Eis o que efetivamente fere não apenas o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas também a individuação, não um filme cujo propósito é chamar à atenção para tais chagas sociais, das quais os responsáveis jurídicos e políticos articulam-se para proibir uma exibição cinematográfica.
Eles querem salvar a família. Mas ninguém a salva. Ela é mutante: transmuta-se com o mundo que roda e escapa à competência intelectual tacanha da censura cristalizante.
Mesmo porque em A serbian film as cenas de profunda violência à criança estão mais na ordem da sugestão do que na imagem explícita.
Sim, há sangue e há horror em A serbian film. Mas talvez muito menos do que em muitos dos filmes classificados na mesma categoria. E muito menos ainda do que as fraturas sociais expostas com as quais a rua nos enche cotidianamente. Sim, a comparação pode ser esdrúxula, mas pertinente.
Exatamente por isso, por não suportar mais tais realidades, provavelmente eu não teria assistido a A serbian film, não fosse a censura que o filme vem sofrendo no Rio de Janeiro, no Brasil.
A personagem principal, aliás, cabe dizer, comete as atrocidades que A serbian film apresenta sob o efeito de estimulantes químicos injetados à sua revelia. Ou seja, dentro do próprio A serbian film há um filtro moral chamando a atenção do espectador para os horrores dos atos. Tanto é que, depois de descobrir que estuprou a mulher e o filho - a criança não aparece: só vemos seu rosto traumatizado e transtornado ao final do ato -, Milos (Srdjan Todorovic) não encontra outra solução diante da vida senão a morte do monstro em si.
Dito tudo isso, A serbian film não é um bom filme. Carece de produção, de melhores diálogos, atuações. Mas não expõe nada que nossos ouvidos perplexos e calejados já não tenham captado diante da nossa competência humana ao horror, à truculência - sem limites. Basta ligar a TV agora.
Censurar A serbian film não diminuirá em nada o terror (palavra da moda) diário ao qual nossas crianças são vítimas. Pelo contrário: os efeitos da censura, como sabemos, são tenebrosos.
Usar o argumento de que o filme incita à pedofilia é tão ilógico que, mesmo perplexo, nem me dou ao trabalho de comentar. Até porque se pessoas "sem equilíbrio emocional e psíquico adequado para suportar tais evidências de desumanidade" existem isso é um problema que urge solução no campo político-social e não nas expressões artísticas. Deste modo, censurar um filme agiria sobre o efeito e não sobre a causa da ferida. Seria mais um paliativo: tentativa sempre frustrada de conter o incêndio com uma chuva rala de consequências assustadoras, repito.
Até hoje convivemos com a dor de quem perdeu um afeto para as patrulhas ideológicas e com a má interpretação (interesseira) do que seja "politicamente correto" e bom para o bem comum.
Enfim, o triste disso tudo é constatar que enquanto a regra do "Não vi, mas proibi" impera, o que de fato importa às instâncias jurídicas e políticas está ali na esquina gritando por socorro.

segunda-feira, julho 25, 2011

Homme au bain

Faz tempo que o diretor Christophe Honoré vem buscando a quintessência do macho moderno.
Por exemplo: se em Dan Paris ele imprime uma delicada e masculina investigação do amor fraternal e em Les Chansons d'Amour ele sofistica as relações afetivas, com Homme au bain Honoré invade com naturalidade a intimidade de um casal gay em crise. Ou melhor, investiga a vulnerabilidade de um homem no banho.
A imagem de um desolado François Sagat, sentado nu diante de uma estante de livros, depois de ouvir de um apático crítico de arte que sua beleza (musculosa) não consegue excitar pois não ultrapassa a pele, é sintomática e reveladora.
Bem como a cena em que o mesmo Sagat, sozinho em casa, faz faxina dançando ao som de "Insensatez" (cantada por Nancy Wilson).
Afinal, o que há por trás das máscaras sociais que o macho precisa usar? E o que fazemos quando, sozinhos, não precisamos usa-las?
Eis algumas perguntas para quais Honoré sugere respostas esmiuçando fragilidades: tencionando certezas.
E como cenário para isso: Gennevilliers, zona de problemas no que se refere à integração social da capital francesa.
Aliás, a aparição relâmpago de Marina Abramovic - em ação na performance The artist is present - não pode passar despercebida: ela tenciona o jogo claro-escuro, fundo-superfície que o diretor tenta o tempo todo representar em Homme au bain: onde está o masculino no corpo do homem?
Homme au bain é montado com imagens ora do próprio diretor (Honoré), ora forjadamente feitas pela personagem Omar, ironicamente interpretada por Omar Ben Sellem, em viagem a Nova York, onde, despretensiosamente, filma Abramovich, além de manter a câmera fissurada em um novo jovem amante, enquanto acompanha Chiara Mastroianni (L'actrice) no lançamento de um filme.
A propósito, é na montagem que reside a intervenção nouvelle-vaguiana de Honoré. Subúrbio de Paris e cosmopolitismo novaiorquino.
Homme au bain quer sugerir que a ficção cria a realidade. Não é à toa que a personagem de François Sagat - astro pornô na vida real - diz a certa altura do filme: "Não me sinto à vontade com os atores". Tudo é sugestão, ensaio, investigação.
Em Homme au bain, o sexo exposto é tão natural quanto o ato de fazer a barba. Honoré trabalha no lugar onde sexo e amor - e seus desdobramentos - se encontram e se estranham.
Pensado para ser um curta, Homme au bain não é o melhor filme de Honoré, mas são nos olhares infantis lançados por Sagat - cujo corpo é ícone de virilidade - ao longo do filme onde se revela a tradução perfeita à desconstrução do masculino que Honoré vem propondo em sua peculiar filmografia.

terça-feira, julho 19, 2011

Rita Ribeiro

Rita Ribeiro
Teatro Sesi RJ
19/07/2011

terça-feira, julho 05, 2011

Marcelo Camelo

Marcelo Camelo
Teatro Rival
Palco MPB - Toque dela
04/06/2011

segunda-feira, julho 04, 2011

São João em São Paulo

Para ser lido ao som de "Não existe amor em SP", de Criolo:



Este São João eu decidi fazer algo diferente. Ao invés de ir para Campina Grande, eu decidi ir para São Paulo e hospedar-me na Avenida São João: perto dos buxixos, de onde dá para fazer vários passeios a pé.

Depois de deixar a pouca bagagem no quarto do hotel, cuja janela proporcionava uma vista privilegiada da famosa avenida e do topo do COPAN, fomos à feira cultural LGBT, no Vale Anhangabaú.

Mais tarde jantamos no shopping Pátio Higienópolis onde assistimos à peça Mambo italiano, no Teatro Folha.

Eu já tinha visto o filme e gostado bastante. Apesar da imaturidade cênica dos atores mais novos, a peça fez uma competente adaptação do roteiro para os palcos paulistas - dando verossimilhança à história por fazer as personagens transitarem por lugares de são Paulo. Mais o destaque mesmo é Jussara Freire: senhora das cenas.

A Galeria do Rock virou destino certo, às vezes que visito São Paulo. Procurar cd's fora de catálogo em uma de suas lojas - desta vez eu trouxe comigo a trilha sonora do filme Orfeu, entre outros; comprar camisetas confeccionadas por uma de suas pequenas grifes, como a Santa Hell; e mesmo passear por um espaço em que várias tribos confluem é um programa pra lá de bacana e signo paulista.

Outro destaque foi ver in loco a restauração do Teatro Municipal. Ficou lindo, como é e merece ser. Além de passear pelas ruas do Centro, cheias de sebos de livros e discos, arquitetura ímpar e bons restaurantes. Por falar em comida, indico (com louvor) a Doceria Holandesa - Av. Vieira de Carvalho: entre o Largo do Arouche e a Praça da República - e suas tortas e cafés tentadores.

Impossível não ir à feira na Liberdade e almoçar no Comida Caseira: restaurante que faz jus ao nome e que serve uma feijoada - para esquentar os maravilhosos dias frios de São Paulo - farta e saborosa. Depois disso, bater pernas na Av. Paulista - visitar a Casa das Rosas; as livrarias Cultura, Fnac, Martins Fontes e a exposição do arquiteto, cenógrafo, figurinista e artista visual Flávio Império, no Itaú Cultural.

Sem contar as bordejadas noturnas entre o trecho que vai da Av. São João e a Praça Franklin Roosevelt: reduto certo de gente interessante e interessada. Desta vez, ao invés do Espaço dos Satyros, assistimos - às 24h de um sábado - à peça Prego na testa, no Espaço Parlapatões, onde Hugo Possolo faz uma contundente análise sintomática de nosso jeito contemporâneo de ser. Isso depois de comer no bacanérrimo Rose Velt, restaurante e cachaçaria que fica na mesma praça.

A exposição Os anos Grace Kelly - princesa de Mônaco, na Fundação Armando Alvares Penteado, deu-nos uma aula daquilo que deve ser a excelência de uma montagem expositiva. As soluções arrojadas encontradas pelos curadores e cenógrafos eram um deslumbre: tanto faziam jus à pompa do tema, quanto enchia os sentidos dos visitantes de desejo.

No MASP, a exposição 6 bilhões de outros apresentava vídeos/depoimentos de pessoas comuns e dos mais diversos signos sociais de todos os cantos do mundo. Uma impactante cartografia da palavra falada que revela nossas semelhanças e diferenças.

Já no Museu Lasar Segall, fotos de Andreas Feininger nos mostravam a Nova York dos anos 40.

E não poderia faltar uma passada em uma das feiras de antiguidade de São Paulo. Escolhemos dessa vez a feira do Bixiga, na Praça Dom Orione, onde tive a feliz alegria de encontrar um LP Araçá azul, de Caetano Veloso, dando sopa para mim. Não resisti às piscadelas e sai da feira com o LP debaixo do braço. Estávamos indo para a XV Parada do Orgulho LGBT, na Av. Paulista, e nada melhor do que levar "um disco para entendidos" para um evento como este.

Ou seja, de São João só a avenida onde nos hospedamos mesmo. Além do milho verde cozinho, amanteigado e cortado em prato plástico comprado para aquecer as noites frias do junho paulista.