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quarta-feira, dezembro 31, 2008

2000inove

Agradeço aos que acompanharam, de várias formas, o blog Mirar & Ver em 2008.
Dividimos bons momentos juntos...
Renovo o desejo e a vontade de que as relações se fortaleçam em 2009.
Afinal, juntos somos mais fortes!

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Nós Barrocos

Apesar das controvérsias ainda hoje é possível perceber como o barroco exerce poder sobre o gosto e o estilo de vida dos brasileiros. Esse “poder” está em exposição na mostra "O barroco no popular e o popular no barroco", na CAIXA Cultural-RJ.
Sob curadoria da antropóloga Gisele Catel e da historiadora Cristina Ávila, a exposição apresenta, entre outras possibilidades, o barroco, com sua linguagem sinestésica, como “a arma ideal da colonização para a dominação de novas terras e novos povos”. Os fiéis eram arrebatados pelo deslumbre visual das peças e ritos religiosos. Tudo era motivo de festa naquele período. Não muito diferente de hoje, como observa Affonso Ávila no livro “Circularidade da ilusão” (2004).
Através da mostra observamos que, desde as exóticas pérolas baroquias – encontradas no século XVI pelos portugueses e que terminaram por dar nome ao estilo – até as procissões, cavalhadas, congados, maracatus e carnaval, o barroco é a explosão de alegria e resposta antropofágica. Affonso Ávila vai além e afirma que “o choque entre fantasia e realidade no discurso poético e literário do barroco” está presente tanto na “ludicidade artesanal” quanto na “ludicidade tecnológica da era da informática”.
De fato, a liberdade barroca nos permitiu construir a forma de vida que adotamos para o nosso país e a nossa identidade. Quando a “baroquia” se metamorfoseia em “barroca”, para nomear toda arte bizarra e irregular, ao mesmo tempo, cria o “vigor e a criatividade exuberante presentes em todas as formas da arte popular”, como sugerem as curadoras.
Entre as peças da mostra merece destaque o colar de pérolas baroquias criado por Antonio Bernardo e um altar de umbanda, consagrado pela Tenda Espírita Pai Jerônimo. Acerca deste último as curadoras lembram que “a convergência entre as religiões africanas e o catolicismo foi facilitada pelo fato das duas tradições serem fortemente ancoradas em suportes materiais e visuais de impacto sensorial profundo”. Para elas “a mão do povo é guiada pelo barroco que impregna cada gesto de artista e artesãos nos quatro cantos do país”. País que tem a fusão do sacro e do profano como marca de sua arte e estilo de vida.
Em tempo, cabe prestarmos mais atenção não somente ao barroco histórico, mas às suas repercussões e contribuições para nossa cultura, repleta de prazeres, labirintos e nós.

Texto Publicado no Jornal A União-PB 13/12/2008

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Show Sticky And Sweet Madonna – Muita tecnologia, imagens lindas nos telões, equipamento de som impecável (até para ajudar a voz sofrida da cantora)... tudo incrivelmente profissional e impecável. Quando ela cantou 'Like A Prayer' todo mundo foi ao delírio... Ver aquele povo todo, Maracanã lotado, banhado de chuva, suor e luz é indescritível!.
= Peça Inveja dos Anjos – Texto, cenografia e iluminação excelentes do grupo de Teatro Armazém. A boa direção só poderia ter exigido menos gritos "dramáticos" dos atores. Fundição Progresso-RJ.
= Peça Quartet – Com um texto tão complexo, confesso que fiquei com receio de assistir a uma encenação feita por dois irmãos (Beth Goulart e Paulo Goulart Filho), mas o resultado é incrivelmente impactante. Teatro Leblon-RJ
= Peça 2 p/viagem - Despretensiosa peça encena pelos jovens Miguel Thiré e Mateus Solano que agrada o público em busca de risos fáceis. Bom trabalho de voz e corpo no teatro. Teatro Cândido Mendes-RJ
= Peça Clandestinos - João Fonseca acertou em cheio na escolha do elenco. Todos interpretando (entre ficção e realidade) a saga de jovens talentos (personagens interessantes) que vêm para o Rio de Janeiro em busca de fama. Teatro da Glória-RJ.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

André Masseno

A discussão sobre qual é a dose de ficção no real e vice-versa é algo que sempre gera muita controvérsia. Ainda mais em um contexto em que a tecnologia cada vez mais interfere nas narrativas e na arte. Os textos autobiográficos ou autoficcionais proliferam, a arte performática ganha força, com manifestação soberana do livre-arbítrio. Ao encontro disso os limitem que separam um gênero artístico de outro são cada vez mais tênues e os críticos encontram cada vez mais dificuldades para analisá-los ou defini-los.
De fato, como ressaltou o cineasta Peter Greenaway, semana passada no Rio de Janeiro, os performers, como pintores sensibilizados com o cenário ao redor, conseguem agir no cruzamento entre o compromisso criador ficcional e a clara consciência da dimensão psicológica. A aproximação entre performance e artes plásticas vem da certeza de que nem uma das duas se preocupam com o público. Ou seja, durante a sua existência, ambas existem como um todo fechado, com começo, meio e fim.
Assim, chamo atenção para a obra de André Masseno, artista contemporâneo que sabe trabalhar com humor e crítica uma arte em permanente auto-(re)visão. Seu trabalho une informação visual e a palavra escrita, questionando o cotidiano real.
Em seu recente espetáculo “Outdoor Corpo Machine”, por exemplo, ele aprofunda sua pesquisa sobre movimento e gênero. Tematiza e tenciona as imagens midiáticas do corpo masculino e em dado momento da performance seu corpo apresenta as várias possibilidades de posições do boneco Ken (aquele da Barbie). Masseno não representa nenhuma personagem, apresenta ele mesmo, seu humor e seu intenso desejo de ir fundo nas coisas, com sua experiência enquanto indivíduo e artista queer. Sabedor de que nenhum resumo dá conta da vida, ele faz de sua apresentação um todo instantâneo.
Para o crítico Pierre Restany o “fetichismo da ação [comum em nossos dias] se inscreve na perspectiva lógica de um procedimento extremista, tanto mais desejosa de ir ao fundo das coisas quanto se proíbe qualquer compromisso criador mais clássico em paralelo”.
André Masseno vem desenvolvendo um instigante projeto de se despir em cena para questionar o instantâneo da vida. Ele entende que não há um repertório exterior ao performer, além da sua própria percepção da pluralidade da vida e sabe usar isso muito bem.

Texto Publicado no Jornal A União-PB 29/11/2008

Entre outros, ouvi, vi e li, por estes dias:

= Musical A Noviça Rebelde – Maravilhoso!
= Exposição O Barroco no Popular e o Popular no Barroco – Mostra com muito bom gosto o período histórico e as ressonâncias do Barroco no Brasil. Imperdível! Caixa Cultural-RJ.
= Encontro Internacional de Palhaços Anjos do Picadeiro 7 – Boa mostra de como a arte do riso inocente (as vezes nem tanto) sobrevive.