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quarta-feira, fevereiro 14, 2007

A outra face da moeda

O estudo de uma moeda de prata de dois mil anos, revelou que Cleópatra, imortalizada na tragédia de Shakespeare e, no cinema, por Claudette Colbert (1934), Vivien Leigh (1945) e Elizabeth Taylor (1963), tinha a testa estreita, o queixo pontudo, os lábios finos e o nariz adunco, portanto, segundo a capa de O Globo e os estudiosos de numismáticos, era feia. Mas feia pra quem?
Esta moeda com a face da rainha egípcia levanta a questão da subjetividade que sempre permeou a discussão sobre o belo. Curiosamente, a maioria dos historiadores, não fala da aparência física dela, mas são unânimes ao falarem de seu poder de sedução.
Pela imagem da moeda percebemos, sem dúvidas, que ela não se enquadra nos padrões do grupo que define o que é belo para o nosso mundo coletivo.

Contemporaneamente, “o gostar” e “o ser belo” abriu-se a um leque de possibilidades, talvez porque ninguém precise(?) reprimir mais seus desejos. Tudo parece ser tão fácil. Mas não é, e a busca pelo “corpo perfeito” e pelo “físico da hora”, engendrada por mulheres e homens, homos, héteros, etc e tal, mostra a dificuldade e tristeza dos que preferem se enquadrar, levando-nos ao uso, como sempre usamos, das máscaras sociais. E o que é pior, levamos o personagem pra cama.

Sabemos que nenhuma beleza física resiste a efemeridade do tempo, mesmo com todos os recursos dermatológicos modernos, mas porque ainda cultuamos a busca do “corpo perfeito”? Talvez seja isso um dos mitemas da nossa sociedade?!

Não estou, nem quero fazer, apologia à “feiúra”. É importante sim, ter um corpo saudável e “bonito”. Mas confesso que me agrada a “beleza” aliada a uma postura individual e sutil, é o belo como resultado do saudável, e não o contrário.

Na verdade, ou pelo menos na minha verdade, o que atrai são as “anormalidades” individuais e não a massificação cega, surda e muda. Fico inquieto com essas idas e vindas que a mídia “impõe” em nossos conceitos e paradigmas. O mito Cleópatra não será abalado com a queda deste mitema, mas esta é a função da mídia, construir, matar e reconstruir mitos para nosso deleite (?).

Só ouvindo “Salão de beleza”, do Zeca Baleiro, para pensar e relaxar(?):

(...)Mundo velho e decadente mundo
Ainda não aprendeu a admirar a beleza
A verdadeira beleza
A beleza que põe mesa
E que deita na cama
A beleza de quem come
A beleza de quem ama
A beleza do erro puro do engano da imperfeição(...)